segunda-feira, 9 de setembro de 2013



Olá, sou Roberto. Tenho 26 anos mas nasci na Bahia em uma cidade chamada Várzea Nova. Aos 2 anos de idade sofri um acidente terrível com queimadura com álcool, que minha mãe ou meu pai havia colocado em um vidro de leite de colônia, aquele vidro rosa que até hoje encontra facilmente em farmácias. Quase morri. Queimei praticamente o pescoço todo, peito e também ombro. Deste acidente eu me lembro pouca coisa, eu era muito novo, mas algumas coisas ficaram marcadas na minha mente. 

Aconteceu da seguinte forma: 
Um dia minha mãe assar carne pro almoço em uma churrasqueira improvisada com tijolos e tela de ferro. Usava esse vidro para jogar e acender o fogo mais facilmente. Eu estava brincando no chão e vi o vidro super colorido, peguei esse vidro que estava meio aberto no perto de onde eu brincava e comecei a passar no meu corpo imaginando que era perfume, logo depois sai pra fora onde estava a churrasqueira. Passando perto aquele fogo pulou em mim e, eu comecei a chorar muito alto. Minha mãe veio correndo e fez de tudo para apagar o fogo que me queimava todo. Não sei quanto tempo eu fiquei com o fogo no meu corpo mas lembro bem que logo em seguida minha ela me pegou no colo e saiu correndo pela rua comigo enrolado em um cobertor que ela usou para apagar o fogo. Meu corpinho ardia muito. Tenho essa lembrança Bem clara em minha mente. As pessoas que ela encontrava pelo caminho não ajudavam. Muitas dessas pessoas assustadas não sabiam o que fazer e, com isso ela continuou a correr até a avenida que corta meu bairro, correu uns 800 metros da minha casa até a avenida. Implorava para os carros que passavam parar e ajudar. Mas não paravam. Até que uma pessoa com um fiat 147 parou para me socorrer.  Não tinha como não parar, ela se jogou na frente do carro. 
O motorista me levou até o hospital mais próximo. No caminho lembro bem, eu no banco de traz do carro no colo da minha mãe desesperada, como eu sentia muita dor chutava fora o cobertor para aliviar aquela dor. 


Depois disso não lembro de muita coisa, só que acordei em uma cama de hospital especializado em queimados. Fiquei internado durante 4 meses depois de algumas cirurgias para melhorar a pele que foi queimada. No decorrer da minha vida fiz várias cirurgias plásticas para melhorar essas cicatrizes. Mas ainda tenho muitas marcas deste tempo que me faz lembrar todos os dias quando olho no espelho o grande trauma que passei. Melhorou bastante do que era antes mas sei que, normal nunca serei. Essas cicatrizes me fez uma pessoa muito fechada e tímida. Eu tenho medo de me relacionar com as pessoas em geral e, com isso perdi muitas oportunidades na vida de crescer como pessoa. Na medida do possível estudei, trabalhei e conheci pessoas, boas e ruins claro. O lado bom é perverso das pessoas conheço bem. 
Quando criança após o meu acidente passei muitos anos em uma creche. Minha mãe me deixava lá para poder trabalhar. Dos 3 aos 10 anos estudei neste mesmo lugar, onde fiz até a 3ª série do primário. Eu gostava muito de lá. Como eu era criança não notava ainda como as pessoas me olhavam com receio, medo até um certo nojo devido as minhas cicatrizes. Hoje em dia ainda sinto isso nas pessoas. Quando chego a primeira coisa que olham é para o meu pescoço. Elas tentam disfarçar mas não tem como não notar esse olhar que me machuca bastante. Mesmo eu vendo que algumas delas não tem a intenção de me deixar constrangido e sim por susto ou dó de mim. 


Agora adulto eu tentei conseguir a cirurgia para melhorar um pouco mais essas cicatrizes que eu tenho no meu corpo e também na alma. Sei que se não tivesse acontecido isso eu teria sido uma pessoa bem melhor, quem sabe até ter vencido na vida e não ter perdido tanto tempo trancado em casa me escondendo do mundo. Sei que foi um acidente, mas não consigo deixar de culpar meus pais por isso. As vezes digo pra mim mesmo que não adianta ficar culpando um ou outro, o que aconteceu aconteceu, não tem mais volta. E terei que conviver com isso. Vocês devem estar se perguntando: Mas ele fica jogando isso na cara da família todo dia? Não. Eu nunca toquei neste assunto com minha mãe ou meu pai. E sim é uma coisa que tenho dentro de mim que os culpam por tudo isso. Por não terem cuidado melhor de uma criança indefesa. 


Sou muito fechado para expor meus sentimentos. No meu rosto tem sempre um sorriso, mas não é totalmente real, é só para fingir que está tudo bem comigo, não quero de forma alguma que eles se preocupem comigo. Eu criei uma barreira onde dentro dela eu me sinto seguro, e por isso não falo da minha vida para ninguém. Exatamente por isso resolvi criar esse blog para me aliviar um pouco deste meu martírio pessoal. Demorei anos para tomar essa atitude e estou gostando jogar isso que está dentro de mim um pouco pra fora. Com certeza eu não conseguiria falar isso para um psicólogo. Tentei uma vez mas não gostei nada de ficar falando da minha vida pra outra pessoa. Tenho medo como eu já havia falado. Passando essa página do acidente da queimadura. Eu passo agora para um problema ainda maior que, pois meche ainda mais com minha autoestima. 


Há mais ou menos 7 anos começou a crescer um caroço dolorido nos dois lados do bico do meu peito. No começo eu não dei muita importância, pensei que logo passaria. Mas com o passar dos anos foi ficando ainda pior. Começou a ficar mais aparente e com isso toda vez que eu vestia uma camiseta mais clara ele se destacava. Eu faço academia, Entrei para melhorar minha auto- estima. Não uso anabolizantes, apenas suplementos liberados. Mas mesmo assim isso começou aparecer em mim. Como já não se bastava ter o corpo cheio de cicatrizes de queimadura e ainda vem mais essa pra me prejudicar ainda mais. As vezes penso que se existir reencarnação, eu na outra vida fui uma pessoa muito ruim para tanta coisa deste tipo aparecer na minha vida. Ou seja, o que já era ruim ficou ainda mais. 


Por pensar que era algo passageiro demorei a procurar um médico para ver o que estava acontecendo comigo. Eu não tenho plano de saúde e por isso tive que recorrer ao SUS. Todos sabem como é demorado uma consulta em uma rede pública de saúde. Isso tudo sozinho sem falar nada pra ninguém. Não gosto de preocupar as pessoas com meus problemas e nem com o que estou sentido. Esperei 3 meses para ser chamado para fazer a consulta. Me consultei com um especialista em ginecomastia. Fiz muitos exames para ver se eu tinha algum problema hormonal que descarretou esse caroço de gordura no meu peito. Ficou comprovado nos exames que era mesmo ginecomastia. O medico pediu a autorização para fazer a retirada do caroço. Esperei mais 6 meses para conseguir fazer. No dia da operação fui todo animado pois sabia que aquilo iria me ajudar muito, seria um peso a menos para carregar. Fiz a cirurgia e fiquei em casa me recuperando por 10 dias. Isso tudo sem minha família saber o que eu havia operado. Na recuperação via que não tinha ficado satisfatória. 

Como o caroço era grande, alargou muito a áurea e o bico do meu peito. O médico não tenho o cuidado de retirar o excesso de pele do mamilo, e com isso ficou muito flácido e estranho. Voltei e perguntei pra ele se era normal aquilo, disse que sim e com o passar do tempo voltava ao normal, coisa que não aconteceu. Um ano após a cirurgia eu notava que o meu problema continuava e estava voltando a ginecomastia e de uma forma ainda mais aparente. Logo vi que eu teria que recorrer todo o caminho do SUS por uma nova cirurgia. E foi o que eu fiz mas desta vez pedi para ser tratado por um cirurgião plástico, pesava que assim tudo daria certo. Marquei uma consulta que demorou muito mais que devido a especialidade plástica ser bem mais procurada. No dia da consulta novamente me enchi de esperança por aquele martírio está chegando ao fim. O médico me pediu muitos exames para novamente comprovar que era esse o problema. Fiz e foi comprovado e foi pedido a autorização para fazer a cirurgia. Ligava praticamente todos os dias para ver se estava autorizado e nada, passou um ano, passou dois e nada. 
Chegando quase ao terceiro ano recebi a ligação falando que seria feita. Neste dia eu fiquei tão feliz como nunca havia ficado na minha vida. Pois esse negócio no meu peito estava me deixando muito retraído. Eu não estava nem indo pra academia. O caroço estava aparecendo em qualquer roupa que eu vestia, ainda mais se fosse uma de cor clara. Eu evitava ao máximo comprar esse tipo de camiseta. Usava até uma vida isolante ou esparadrapo para tentar disfarçar esse caroço, mas acho que não dava muito certo. Eu notava alguns olhares e comentários sobre meu peito na academia. Claro eu fingia que não via e ouvia mas isso me magoava muito, eu pensava, já tenho esse meu corpo cheio de cicatriz e ainda isso agora pra acabar de vez comigo. Um aluno desta academia começou a espalhar pra outros que o meu problema. Ele fazia comentários apontando disfarçadamente pra mim e logo praticamente a academia toda sabia que eu sofria de ginecomastia mesmo eu tentando disfarçar ao máximo com os artifícios de esparadrapo e camisetas escuras. 
Não tive coragem de continuar treinando. Parei de frequentar a academia por um bom tempo quando criei coragem de voltar ia em horários que não havia quase ninguém. Mas graças a Deus depois de muito esperar finalmente chegou. Acordei no dia da cirurgia as 4 da manhã, eu teria que chegar ao hospital no máximo até 5:30 para a internação. Fui sozinho sem falar nada pra minha família como sempre. As 8 da manhã me chamaram para a sala de operação. Fui com um sorriso grande no rosto, pois finalmente chegou o dia da libertação deste meu problema que me afligia tanto. Acordei as 15:30 já na enfermaria todo cheio de curativo. Olhei e novamente sorrido agradeci em pensamento a Deus pela graça alcançada depois de tanto corre corre. 24 horas depois eu recebi alta e fui pra casa, novamente sozinho até porque eu não contei pra ninguém de casa o que iria fazer ou o que estava acontecendo comigo. Novamente fiquei de repouso me recuperando por 30 dias sem pegar peso. 



Passando o período de repouso voltei super feliz pra minha vida normal de trabalho e academia com minha auto- estima bem melhor, mesmo vendo que ainda continuava inchado, mas pensei que logo sumiria, que aquilo era passageiro. Mas com o passar do tempo eu notei que mesmo assim não havia ficado bom, 3 meses após eu me operar não notei diferença e ainda continuava a sentir o caroço e também o acumulo de gordura no peito. Comecei a ficar com raiva de mim mesmo, e do médico por não ter feito a operação como deveria ser feito. Procurei o médico e ele disse que o que podia fazer por mim já foi feito. Eu tirei a camisa e mostrei que estava igual não havia mudado em nada além da cicatriz que ganhei na auréola do peito. O meu problema continuava lá, tanto que muita gente inda notava nitidamente o meu peito saltado, mesmo usando roupas escuras. 


Mais uma vez peguei dois caras comentando e apontando pra mim e rindo meio que escondido. Mas novamente fingi que não vi, como fazia quase sempre.  Passando 10 minutos eu não aguentei e tive que ir embora. Fiquei mais 4 meses me escondendo como podia de tudo e todos. Quase não saia de casa, vivia trancado no meu quarto em frente ao computador pesquisando sobre meu problema. Se era normal que depois de duas cirurgias o problema persistia, eu não achei nada sobre o assunto, todos os depoimentos que via era de pessoas que tinha se dado bem com o tratamento vi até umas fotos do antes e do depois, casos bem piores do que o meu, mas no meu caso não deu certo.

Depois de um certo tempo eu tentei voltar a minha vida quase normal. Ontem dia 07/09 fui a uma festa para me distrair um pouco e como era mais escuro com certeza ninguém notaria minha problema. Claro fui com roupa mais escura e também usei esparadrapo para disfarçar. Eu tinha sempre esse cuidado antes de sair de casa. Mesmo para ir até a padaria comprar pão. Chegando na boate encontrei alguns conhecidos e ficamos conversando e dançando. Percebi que algumas pessoas estavam me olhando disfarçadamente, mas eu notava que era pra mim. Notei também que um apontava pro outro tentavam disfarçar quando eu olhava mais nos meus anos de pratica nisso logo vi que mesmo com todo meu cuidado ainda assim essa coisa ainda aparecia.


Triste e envergonhado falei que iria ao banheiro e voltaria logo, mas fui embora pra casa quase que chorando. Eu me segurava mas quando entrei no carro não consegui mais e cair no choro, era uma mistura de raiva com desespero, daquelas pessoas e de mim mesmo. Fiquei ali dentro do carro por mais de 2 horas pensando na minha vida, por que Deus estava me castigando desta maneira.  Não cheguei a nem uma conclusão. O que eu poderia é apenas correr atrás tudo novamente.

Quando eu penso que tenho que fazer tudo novamente para ver ser desta vez dá certo e as pessoas param de me julgar e rirem do meu problema. Sei que minha vida social ficara marcada pra sempre. Eu nunca me recuperarei destes traumas que estou vivendo. Tenho certeza disso. Tenho muita raiva de como o ser humano pode ter um lado muito cruel. Apontam sem saber qual o real motivo está escondido no problema ou no deito que a pessoa tem. 


Só eu mesmo sei o que estou passando e o que já passei. Tenho muita esperança de um dia olhar pra traz e ver que tudo é passado. Eu decidi escrever este texto como um ato de desabafo e também aliviar minha dor e raiva. Pensei até em já fazer o pior, não fiz pela minha família. Não quero que eles sofram. Mesmo eu sendo essa pessoa fechada eu gosto muito deles e, é exatamente por isso que guardo tudo pra mim. Só pra mim. Estou começando tudo novamente para ver se desta vez corre tudo certo e eu acabe com esse problema... por favor torçam por mim. 

Somente quem passou ou passa por isso sabe o que eu estou sentindo.  O trauma que isso causa na minha vida social.  Na verdade eu não tenho uma vida social. 

Eu gostaria muito que vocês me ajudassem colaborando com qualquer quantia que for para eu poder fazer essa cirurgia particular. Não  consigo esperar mais 2 a 3 anos para ser operado e, com certeza meu psicológico não vai aguentar. 

Por favor me ajudem, eu ficarei muito agradecido por toda minha vida.  5 reais, 10 reais ou o quanto poder.  Só estou pedindo pois estou muito desesperado.

Obrigado por ler meu desabafo.


Bradesco         
agencia 0140
Conta poupança 1016 315-3

Roberto 08/09/2013 

meu email:
robertoajuda@outlook.com

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